A partir desta quarta-feira (10), entrarão em vigor na União Europeia regras para regulamentar os investimentos feitos por fundos com a temática ESG. Gerentes de fundos que investem focados em temáticas ambientais, sociais ou de governança terão de apresentar ao bloco europeu um plano tangível e mensurável de como fazer isso.
As alterações atingem a todos gerentes de ativos que levantam dinheiro na UE, estando ou não sediados dentro das fronteiras do bloco. A nova regulação se deve ao fato da falta de uma definição concreta do que realmente constitui um investimento sustentável e a falta de uma regulação para o setor.
Devido a fato de que, até então, gerentes de fundos e ratings de ESG têm sido livres para estabelecer suas próprias definições, as novas regras - conhecidas como Regulação de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR, em inglês) - foram criadas com o objetivo de evitar exageros e falta de parâmetros para estes investimentos no longo prazo.
Considerado "pai" do termo ESG, o consultor britânico John Elkington ressaltou o perigo da chamada "maquiagem verde" - quando uma empresa tem atitudes de fachada para se posicionar como sustentável, mas pratica um negócio que causa danos ao meio ambiente.
"A maquiagem verde é muito perigosa, mas acho que toda nova linguagem nos leva a novos pensamentos. Se a discussão levar mais pessoas a visitarem fazendas regenerativas ou buscarem mais informações sobre a [fabricante de roupas americanas] Patagônia, já será um grande avanço. É assim que a evolução ocorre em nossa espécie", defendeu Elkington, durante palestra na semana passada na Expert ESG (evento realizado pela XP Investimentos).
Mudança do fluxo de capitais
De acordo com levantamento da Morningstar (empresa de dados e análise de investimentos), o volume de capital nas aplicações em ativos sustentáveis têm aumentado consideravelmente em todos os países. No quarto trimestre de 2020, investidores direcionaram US$ 152 bilhões papéis marcados como o selo ESG - uma alta de 88% ante o trimestre anterior.
Para o Sócio e Economista da VLG Investimentos, Leonardo Milane, a mudança real no foco dos investimentos é um movimento atual em todos os países e tende a seguir esse caminho com uma fatia cada vez maior voltada para a temática sustentável.
"Quando olhamos em termos globais, as maiores gestoras de investimentos do mundo, já têm fundos dedicados a este tema. Atualmente, já vemos algumas gestoras - que têm décadas de existência - mudando a mentalidade e entendendo que o fluxo de capitais vai migrar para as empresas que respeitam essa temática. Então, já vemos alguns bilhões de dólares - em termos globais - sendo migrados de empresas que não têm o selo para companhias que tenham o selo ESG", reforça Milane.
A mudança de mentalidade na tomada de decisão sobre em quais empresas ou projetos investir também tem alterado a dinâmica das aplicações feitas pelos brasileiros. Uma pesquisa da área de tendências do Google mostrou que o interesse pelo conceito ESG atingiu no Brasil o seu ponto mais alto dos últimos cinco anos.
"As novas gerações, principalmente, vêm com um proposta de decisão diferente das gerações anteriores. Isso incluiu decisões sobre onde trabalhar, onde investir o dinheiro, quais empresas prestadoras de serviços escolher contratar, tudo isso ligado a algum propósito. Para gerações mais novas as relações têm de ter algum propósito e não apenas dar lucro por dar lucro", aponta o Sócio e Economista da VLG Investimentos.
Podcast +Q1Minuto
Aprenda mais a respeito de como as temáticas ambientais, sociais ou de governança têm feito cada vez mais parte do universo das empresas e de seus investidores.
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